ARTIGOS & COLUNAS


A imprensa e a postura na atuação no campo político-social

Jornalista  Antonio Guimarães
Vivemos um novo tempo na forma de atuar na comunicação? O que há de diferente na imprensa quanto a atuação de cada profissional?

A cada dia, novos desafios a serem enfrentados, seja com sol ou com chuva, vão sendo encarados por cada um de nós, profissionais que, de alguma forma, em cada um dos veículos os quais fazemos parte, vamos fazendo comunicação.

Ser o elo, como portador da notícia à comunidade, torna-nos uma referência enriquecendo a representatividade de cada um, junto àqueles que assistem, leem, ouvem e até interagem com quem leva informação.

São essas características que distinguem, com clareza, quem de fato faz imprensa, isso pra deixar claro que, a credibilidade e a aceitação, são um juízo feito pela população, com certo enaltecimento ao profissional, principalmente, pela forma séria de apresentar-se. A seriedade, nesse caso, refere-se a ato de expressar-se com precisão, tendo a segurança das informações, a partir das suas fontes.


Já em relação a atuação no campo político, é bem verdade que nessa área a comunicação segue para além de apenas dar a notícia. Essa é uma atuação que faz valer o posicionamento de cada um, onde quem atua, se torna um personagem visto como alguém alinhada ao pensamento da figura pública.


Jornalistas são alvo de Bolsonaro ao menos duas vezes por semana

FENAJ divulgará mensalmente ataques do presidente ao trabalho profissional de jornalistas

O presidente Jair Bolsonaro ataca profissionais jornalistas e o jornalismo por meio de discursos, entrevistas e postagens em mídias sociais, ao menos duas vezes por semana. Até 31 de outubro, foram 99 declarações vistas como ataques a jornalistas (11 ocorrências) e descredibilização da imprensa (88 ocorrências), que visam deslegitimar o trabalho jornalístico, colocando a imprensa e os jornalistas como adversários políticos, ou descredibilizando o trabalho de profissionais e veículos.

O levantamento é da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), divulgado na véspera do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, lembrado em 2 de novembro. O mapeamento se refere a dados coletados no período de 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano, com base em todas as postagens de Bolsonaro no microblog twitter e no facebook este ano (as contas são sincronizadas), além das transcrições dos discursos e entrevistas oficiais, que constam no site do Palácio do Planalto. Foram avaliadas todas as ocasiões em que o presidente se refere a jornalistas, mídia, imprensa e produção de notícias. A FENAJ divulgará o balanço mês a mês.

Em uma sociedade democrática, a imprensa é livre para reportar o que considera noticioso, e todo cidadão também tem o direito de exercer a crítica sobre o trabalho jornalístico. Porém, quando autoridades públicas usam de sua visibilidade para colocar profissionais jornalistas ou a imprensa em si como oponentes políticos, abre-se o espaço para ataques às liberdades de imprensa e de expressão, e descredibilização do trabalho jornalístico, função essencial para a manutenção de um espaço público democrático.

“A FENAJ e todas as instituições que prezam pela democracia não podem aceitar a institucionalização da violência contra jornalistas e das ameaças à liberdade de imprensa como prática de um governo”, afirma a presidenta da FENAJ, Maria José Braga.

Ocorrências

O levantamento da FENAJ mostra que os ataques à imprensa tiveram início dois dias depois da posse, via conta pessoal no twitter do presidente, em 3 de janeiro, quando Bolsonaro afirmou que um de seus ministros fala o que “parte da grande imprensa omite”.

De janeiro a junho, foram entre duas e 12 declarações por mês contra jornalistas e o jornalismo, contudo, houve um aumento significativo nos meses de julho e agosto, totalizando 39 registros. Em setembro, houve queda no número de ocorrências, com o mapeamento registrando oito, contudo, cinco desses ataques foram proferidos pelo presidente Bolsonaro durante seu discurso na 74ª. Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 24 de setembro, diante de chefes de Estado de todo o mundo.

A forma como o presidente se refere ao trabalho dos jornalistas e à publicação de conteúdo informativo pela imprensa contém expressões com questionamento da veracidade, atribuindo às instituições o papel de adversárias, conclama para que a população não acredite nas notícias, ataca profissionais jornalistas chamando de “idiota”, afirmando que cometem “excessos”. Bolsonaro também afirma reiteradas vezes que a imprensa “esculacha”, “massacra”, “acusa”, “está na oposição”, “que tem lado”, “presta desserviço”, que “publica mentiras”.

No dia 13 de setembro, Jair Bolsonaro chegou a afirmar, em sua conta no twitter, que a imprensa é inimiga: “Nossa inimiga: parte da GRANDE IMPRENSA. Ela não nos deixará em paz. Se acreditarmos nela será o fim de todos”. 

No mês de outubro, foram 13 ocorrências de menções à imprensa de forma a descredibilizar o trabalho do profissional jornalista. O episódio da “live” do dia 30 de outubro aparece somente uma vez na contagem, ainda que o presidente tenha proferido diversos ataques nos 20 minutos de vídeo, pois na base de dados elencada pela FENAJ não são analisadas declarações do presidente que não estejam transcritas de forma oficial.

“Nesse mapeamento, que produzimos de forma a seguir uma metodologia de busca e de categorização para visibilizar esses ataques à nossa profissão por parte do presidente, entendemos que é uma postura deliberada de Jair Bolsonaro colocar profissionais jornalistas como inimigos e a imprensa, de uma maneira geral, como sem credibilidade para apurar, produzir e publicizar informações. Enquanto entidade de defesa dos trabalhadores jornalistas, vamos expor essa postura institucionalizada”, explica Paula Zarth Padilha, diretora da FENAJ.

Ataques a jornalistas

A contaminação do ambiente democrático pelo acirramento das disputas políticas tem feito aumentar os episódios de violência contra jornalistas. O Relatório de Violência Contra Jornalistas e a Liberdade de Imprensa no Brasil, da FENAJ, aponta que em 2018 o número de agressões a jornalistas chegou a 135 casos, contra 227 jornalistas, um aumento de 36% nos casos de violência contra os profissionais, em relação ao ano anterior. Em 22% das violências no último ano, os autores de violência foram manifestantes ou eleitores.

“Percebemos que o discurso que coloca jornalistas como adversários tem impacto na segurança de todos os profissionais, seja na cobertura de assuntos do dia-a-dia, quando estão sujeitos a intimidações e a violência física, seja no ambiente digital, quando jornalistas têm seus perfis nas redes sociais expostos e começam a sofrer diversos ataques, xingamentos, ameaças e exposição de informações pessoais, como endereço residencial e fotos da família. Não são poucos os casos de jornalistas que tiveram que fechar suas contas em redes sociais por causa de ameaças”, diz Márcio Garoni, diretor da FENAJ.

Mapeamento


O mapeamento de posicionamentos do Presidente da República, Jair Bolsonaro, contra os profissionais jornalistas, a produção de notícias e as instituições de produção de notícias, representadas pelos veículos de imprensa, produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), no ano de 2019, tem como objetivo divulgar, denunciar e visibilizar os ataques e reafirmar a defesa dos jornalistas, do jornalismo e da democracia.

Por/Federação Nacional dos Jornalistas



AI-5 e Ditadura Nunca Mais!

Fenaj é uma das entidades que integra a Executiva do FNDC


O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) repudia as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro sobre a reedição do Ato Institucional nº 5 ou outros mecanismos para reprimir manifestações e restaurar um regime autoritário no país.

O que o deputado Eduardo Bolsonaro está praticando é, à luz da nossa Constituição, crime contra o Estado Democrático de Direito. Além disso, suas manifestações estimulam o ódio de seus seguidores fiéis, o que pode provocar todo tipo de violência contra opositores.

Não devemos tratar as declarações de Eduardo Bolsonaro como “opiniões polêmicas”, ou excentricidades. A naturalização dos atentados contra a nossa democracia leva a um cenário perigoso para o país.

A edição do AI-5, em 13 de dezembro de 1968, eliminou direitos civis e políticos, cassando mandatos de parlamentares contrários aos militares, impôs intervenções em municípios e estados e também a suspensão de quaisquer garantias constitucionais. A partir daí, o regime militar recrudesceu a perseguição política, institucionalizou a tortura e morte de opositores e levou o Brasil a um dos momentos mais autoritários da sua história.

A aprovação da Constituição Cidadã, em 1988, abrigou cláusulas pétreas para blindar o país de arroubos autoritários. É uma Constituição que instaura o Estado Democrático de Direito, reconhecendo direitos humanos fundamentais.

Em seu artigo 1º explicita o direito à pluralidade política, sem o qual nenhuma democracia sobrevive. Também está neste artigo, a frase que orienta a nossa República — Todo Poder Emana do Povo — e que, infelizmente, está sendo riscada pelas declarações irresponsáveis e criminosas do deputado Eduardo Bolsonaro.

No artigo 5º da nossa Constituição — que a família Bolsonaro e, particularmente, os posicionamentos públicos do deputado filho, Eduardo Bolsonaro, tentam violentar — estão listados e especificados em vários incisos direitos fundamentais como: o direito à livre manifestação do pensamento, de organização, de manifestação e de expressão cultural e artísticas.

Neste mesmo artigo, aparecem claramente vedações à medidas que atentem contra o Estado Democrático de Direito, entre elas:

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

Neste sentido, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação considera que deva ser aberto de imediato processo, no âmbito do parlamento, para punir Eduardo Bolsonaro por desrespeito às instituições e à democracia e que a lei maior do nosso país seja aplicada para proteger o nosso já tão frágil Estado Democrático de Direito.

São Paulo, 31 de outubro de 2019
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

Nenhum comentário:

Postar um comentário